Sebastião Lobo (Almenara-MG)
Não se sabe se existe um país que tenha mais religiões do que o Brasil. É possível que nem mesmo o famoso matemático Oswald de Souza saberia enumerá-las. Conseqüentemente as igrejas estão por toda parte. Pequenas, grandes, de todo tamanho e de todos os credos. Parecem botecos. Nelas, dizendo-se pastores homens e mulheres bem trajados, revezam-se na pregação do Evangelho. Alguns são moderados, outros são espalhafatosos. De bíblia na mão, pulam, dançam, contorcem-se, esbravejam, gotejando suor, são verdadeiros atores na interpretação das formosas e milenares parábolas do Homem de Nazareth – Jesus Cristo.
Ninguém sabe ao certo até onde entra o charlatanismo e a má fé neste mundo de igrejas. Fato é que as religiões são realmente o ópio da crença popular. Elas são a bússola espiritual para os que buscam uma vida mais feliz, para evitar os tropeços abismais. Tudo depende da fé, de como os seguidores de tantas doutrinas religiosas se apresentam e se comportam.
É preciso contudo que se tenha cuidado com os falsos profetas que pregam uma coisa e praticam outra. Que depenam os incautos, extorquindo-lhes o último centavo com a promessa de riqueza fácil, luxo, conforto e um lugar certo no céu. De boas intenções o inferno está cheio, diz o antigo brocado com certa lógica.
Há quem diga, a propósito, que hoje a maioria das igrejas converteram-se em comércio como qualquer um outro e não faz segredo disso. Como são muitas, as autoridades fingem que nada estão vendo nem ouvindo, preferindo o silêncio, o conformismo, a indiferença. Sequer se dão ao trabalho de investigarem o que está realmente acontecendo.
Ora, é notoriamente sabido que Cristo um dia expulsou os vendilhões do templo, os que usavam o seu nome para vender gambiarras, com que exploravam a boa fé dos que a qualquer preço buscavam a salvação e o Reino de Deus.
É evidente que para as igrejas se manterem e cumprirem seus compromissos, elas precisam de ajuda. Ocorre porém que muitas têm extrapolado na prática de arrecadar fundos para que possam desenvolver suas atividades religiosas, sem correr o risco de extinção. E tornam-se com isso bilionárias com seus titulares levando uma vida de marajás, fazendo inveja a um califa.
Há um verdadeiro contraste entre Jesus Cristo e alguns que dizem representá-lo. No seu tempo, com os poderes miraculosos que possuía. Ele naturalmente poderia ter vivido num Palácio de Cristal, mas preferiu a areia escaldante do deserto, a pobreza e a humildade, nascendo inclusive numa manjedoura. Entretanto alguns dos seus pretensos seguidores de hoje, via de regra, a começar pelo Vaticano, nada em ouro e esbanja poderio econômico, onde os escândalos estão sempre acontecendo e os desvios de conduta tornaram-se uma rotina.
Ah, se Cristo ainda fosse vivo e se deparasse com tanta hipocrisia com seu nome! Com certeza Ele não hesitaria um instante sequer em dar-lhes com os pés nos traseiros. E quem sabe, com a mesma firmeza com que refutara as tentações de opulência e poderio com que Satanás o tentara na aridez desértica, os baniria para sempre por traírem e venderem, e se enriquecerem às custas dos seus princípios?
*Sebastião Lobo é jornalista, advogado, escritor, autor de vários livros e membro honorário da Academia de Letras de Teófilo Otoni
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