About Me

header ads

O vendedor de peru


Sebastião Lobo (Almenara-MG)

O sujeito entrou de supetão no meu escritório. Era um cara bem apessoado que devia andar aí pelos seus 25 anos. Como minha porta estava aberta e a secretária havia saído, dirigiu-se diretamente à minha mesa. Simpático e sorridente, disse que queria falar-me, após cumprimentar-me gentilmente.

- Pois não? Sente-se, por favor. O senhor é de onde?

- Daqui mesmo.

- Em que lhe posso ser útil?

- Doutor, eu soube que o senhor tem um sítio...

- Sim...

- Tenho um peru para lhe vender. Se quiser comprar eu vou ali buscar.

- Quero sim.

- Um minutinho. Eu volto já.

O homem ausentou-se por alguns minutos e voltou logo, com o peru debaixo do braço. Era um bicho bonito, do jeito que eu queria. Puro sangue.

- E o preço?

- Vendo barato...

- E o preço?

O homem deu o preço que não me lembro mais porque faz muito tempo.

O fato é que comprei o peru e paguei na hora.

- Sabe onde moro?

- Sim senhor.

- Posso lhe pedir um favor?

- Claro. É um prazer.

- Como estou muito ocupado deixe o peru lá no meu sítio.

Disse a quem o homem deveria entregar o peru. Ele não se fez demorar e saiu imediatamente, quase correndo com uma solicitude rara de se ver.

Duas horas depois o cara do peru voltou. Dei ordem à secretária que o deixasse entrar.

- Doutor, voltei de novo.

Fiquei surpreso e curioso.

- Não conseguiu encontrar o sítio?

- Consegui. Entreguei lá o peru para o caseiro e trouxe essa perua para o senhor formar o casal.

- Ótimo. Boa sugestão. É quanto?

- O mesmo preço do peru.

Paguei sem pechinchar e pedi ao vendedor que voltasse lá no sítio de novo e deixasse a perua. E dei-lhe a mais um agrado.

Ele saiu com passos largos para cumprir o compromisso.

Mais tarde quando cheguei em casa, fui logo perguntando ao caseiro:

- E daí, você recebeu aqui um casal de perus que comprei?

O caseiro assustou-se:

- Casal de peru...? Que casal de peru?

- Que comprei, ué!

Foi difícil acreditar, que eu havia caído no conto do peru. Isso mesmo. Só então raciocinei que havia comprado o mesmo peru duas vezes e que o espertalhão levou meu dinheiro suado numa boa. E de quebra o peru.

- Que filho duma...

Engoli o que ia dizer porque nunca fui de palavrão.

Apenas contentei-me em dizer:

- Isso é que é calote! Que vigarista!

E a coisa ficou por isso mesmo porque eu sequer perguntara o nome e endereço do caloteiro.

*Sebastião Lobo é jornalista, advogado, escritor, colunista do Diário de Teófilo Otoni, autor de livros e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni


Postar um comentário

0 Comentários