Sebastião Lobo
(Almenara – MG)
Às vezes vou ali em Jacinto, aqui no
Baixo Jequitinhonha, e a primeira coisa que faço é visitar o Sr. Leordino
Novais Costa. Assim que chego à cidade bato à sua porta e a pessoa que a abre
me pergunta:
- Pois não, senhor?
- Seu Leordino está?
A pessoa faz um gesto negativo.
Responde:
- Há tempo que ele morreu...
E acrescenta:
- Ué, o senhor não sabia?
Sem graça, digo que sim. E peço
desculpas a pessoa que me atende.
- É que éramos tão amigos e gostava
tanto dele e ainda gosto espiritualmente que esqueço que ele morreu.
- Entendo, diz a senhora simpática
de meia idade, com um gesto de benevolência e uma ligeira sombra de tristeza no
semblante.
Sem soltar o trinco da porta ela
quer saber:
- Como é que o senhor se chama?
Dou-lhe meu nome. E ela se
surpreende:
- Eu já conheço o senhor, o
jornalista mais conhecido e famoso do Jequitinhonha. Gosto de ler suas crônicas
nos jornais.
- Obrigado. Bondade da senhora.
- Entre, por favor, ela me convida
afinal, abrindo totalmente a porta que mantinha semi-aberta.
Fala-me de sua família. E mais de
uma porção de coisas.
Com esforço de uma memória
preguiçosa e lerda lembro-me vagamente dela e do esposo, assim como dos filhos.
- É um prazer revê-la. E como está
sua gente?
- Bem, graças a Deus, responde,
insistindo que eu entre.
- Então o senhor é muito amigo de
nossa família?
Prontamente respondo:
- Como! Para mim Seu Leordino não
morreu. Como a senhora sabe, ninguém morre enquanto permanece vivo na lembrança
e no coração de alguém.
Não consigo reprimir uma lágrima
repentina que me vem aos olhos.
- Vamos entrar?, insiste a senhora
percebendo a minha emoção, com certa preocupação.
Agradeço-lhe pela atenção com que me
recebe.
- Minhas recomendações e abraços à
sua família. E a gente querida de Seu Leordino.
- É cedo, vamos entrar, convida-me
mais uma vez a distinta senhora, a quem de novo agradeço.
- Até breve, despeço-me e com mais
uma lágrima furtiva enevoando minha fraca visão, me retiro que ainda tenho mais
visitas a fazer nesta cidade de tão gratas e ternas recordações.
* Sebastião Lobo é
jornalista, Diretor do Jornal Vigia
dos Vales, advogado, autor de vários livros, membro da Academia de
Letras de Teófilo Otoni e colunista do Diário de
Teófilo Otoni
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