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Sábado na feira



Sebastião Lobo (Almenara – MG)
            Gosto da feira livre. Tanto assim que é raro o sábado que não vou ao mercado municipal papear com os feirantes. É um local que escolhi para encontrar-me casualmente com conhecidos que durante a semana não vejo. Chego ali como quem não quer nada, cumprimento um cumprimento outro, pergunto preço das coisas... e sigo em frente.
            É como se ali, em meio ao falatório, ao vozerio, aos encontrões, ao mundo de coisas grandes e miúdas à venda, as ofertas apregoadas num linguajar muito próprio, me encontrasse num minúsculo pedaço da zona rural.
            Por hábito vou esmiuçando tudo até que me deparo com um raizeiro. Percebendo meu interesse pelas coisas ali expostos, logicamente centrado na minha idade, o dono daqueles produtos extraídos da nossa escassa, quase que extinta flora, um homenzinho raquítico de chapéu de palha enterrado na cabeça desproporcional para seu tamanho, me cumprimenta e pergunta:
            - E aí patrão, vai levar alguma coisa?
            Antes que eu lhe responda o homenzinho adianta-se para mostrar-me algo muito interessante dentro de uma garrafa contendo um líquido esverdeado, em meio a uma porção de raízes fragmentadas:
            - Tá vendo isso aqui, patrão?, diz agitando a garrafa com as raízes.
            - É tire-e-queda. Levanta até defunto da sepultura!
            Para comprovar o que apregoa propõe apresentar-me uma testemunha. Apresso-me a dizer-lhe que não é necessário. Mas neste ponto o raizeiro já me apresenta um sujeito preto  que está ao seu lado, atento a nossa conversa.
            Esboçando um sorriso de aprovação, o sujeito indicado confirma:
            - Pode comprar, doutor, que o negócio é porreta. Funciona mesmo!
            Toma a vez do vendedor para explicar o coquetel indicado como afrodisíaco:
            - Isto aqui é uma mistura de pinga com angico, emburana, pau darco e bufa do capeta...
            Interrompo-o, devolvendo a garrafa para o dono.
            - Agradeço muito a vocês, por tanta gentileza. Mas tô numa idade que não posso brincar com essas coisas. Dão licença...
            E vou andando, com o sujeito ainda insistindo que eu estava perdendo uma excelente oportunidade de calibrar minha pontaria, sem errar o alvo, o que considerei um deboche e um acinte a minha virilidade.
            Contudo, tive vontade de contar ao raizeiro o caso daquele sujeito que questionado sobre seu desempenho sexual, respondeu:
            - Ah, vou indo muito bem! Ainda tiro três numa só noite... duas tentativas e uma desistência.



*Sebastião Lobo é jornalista, advogado, escritor, autor de livros e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni

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